OBS.4s: observações quadradas para um mundo redondo sobre um Deus triúno!

19/02/2010

O casamento é uma dança

ou Quando a Lua é de Mel
Algum dia, depois de havermos aprendido a controlar o ar, os ventos, as marés e a gravidade, direcionaremos para Deus as energias do amor. E então, pela segunda vez na história do mundo, o homem terá descoberto o fogo” – Teilhard de Chardin.

Em meu post anterior, falei sobre o propósito do casamento. Falei sobre a jornada do casal, uma jornada de serviço a Deus. Comentei sobre o movimento de olhos do casal, olhando-se a si mesmos e olhando para frente. Dois movimentos, e não um. O segundo deles representa o propósito do casamento, de que tratei naquele texto; o primeiro representa o romance de um casal.
Um casamento sem propósito é trágico, uma casamento sem romance é triste. O casamento bíblico é esta moeda de dois lados, um caminhar suado e árduo neste mundo abaixo do sol, mas iluminado por uma lua de mel. Se o propósito do casamento é uma longa estrada a percorrer, o romance faz o casal caminhar dançando.
Quero tratar, então, da lua de mel eterna do casal, o romance, esta graça de Deus que escorre do coração e mantém o casal unido, a vida tolerável, e torna a casa um lar. Mas é importante saber de onde tirar as lições do romance: a cartilha do romântico bíblico não é nem Goethe, nem Álvares de Azevedo, nem Vinícius de Moraes, nem Adam Sandler, nem Luan Santana. Busquei aqui tirar algumas lições para o casal romântico no mais belo dos cânticos, do mais sábio (e um dos mais devassos rsrs) dos homens, Cântico dos Cânticos de Salomão.


O lúdico:
“Acorde, vento norte! Venha, vento sul! Soprem em meu jardim, para que a sua fragrância se espalhe ao seu redor. Que o meu amado entre em seu jardim e saboreie os seus deliciosos frutos” 4.16
Além de homo sapiens, somos todos homo ludens, seres que brincam. Faz parte da essência humana, por todas as fases da vida, o brincar. Sendo o mundo tão cruel, o homem tão mal, a vida adulta perde a graça, e Deus inventou a amizade entre homens e mulheres adultos para exercitar as delícias da brincadeira, do riso, da fantasia e da imaginação. Já disse alguém que o amor é a amizade incandescente, digo então que o romance é uma brincadeira em chamas!
Veja com que graça, ironia e imaginação a brincadeira percorre todo o livro de Cantares: “Já tirei a minha túnica; terei de vestir-me de novo?” 5.3.

Admiração mútua e a sexualidade:
“Você é toda linda, minha querida; em você não há defeito algum” 4.7. “Sua boca é a própria doçura; ele é muito desejável. Esse é o meu amado, esse é o meu querido, ó mulheres de Jerusalém” 5.16.
Todo o texto de Cantares é um derramar de elogios mútuos entre o homem e a mulher. Este poema tem muito a dizer aos casais contemporâneos. Parece que na modernidade, com “a supremacia feminina”, os elogios e a admiração são tarefas do homem. À mulher cabe ser elogiada e desejada. Por um lado temos um homem cada vez mais nulo, menos másculo e neutro, e por outro temos uma mulher cada vez mais vaidosa e egoísta. O casal bíblico nos mostra a beleza de um casal que se ama e que se deseja um ao outro. Veja no texto citado acima o olhar quase embriagado do homem pela mulher, achando-a a mais bela de todas!
“Suas carícias são mais agradáveis que o vinho”4.10. “Oh, o amor e suas delícias! Seu porte é como o da palmeira, e os seus seios como cachos de frutos. Eu disse: subirei a palmeira e me apossarei dos seus frutos. Sejam os seus seios como os cachos da videira, o aroma da sua respiração como maçãs, e a sua boca como o melhor vinho” 7.6-9.
A ênfase na sexualidade é bem relevante neste livro. A sexualidade é a delicia do casamento, e o sexo, propriamente, o gol! Muito se fala sobre princípios para se escolher um cônjuge, mas se há um princípio importante, é que o parceiro deve transmitir desejo sexual. Não estamos falando que as pessoas só devem se casar com modelos ou atletas vistosos, mas deve haver admiração, atração física, a tal química!

Amizades: padrinhos e madrinhas
“Para onde foi o seu amado, ó mais linda das mulheres? Diga-nos para onde foi o seu amado e o procuraremos com você” 6.1. “Vejam, é a liteira de Salomão, escoltada por sessenta guerreiros, os mais nobres de Israel; todos eles trazem espada, todos são experientes na guerra, cada um com sua espada, preparado para enfrentar os pavores da noite”3.7-8.
Um homem com amigos fiéis é mais macho; uma mulher com boas amigas é mais feminina. Um homem sozinho é fraco, uma mulher sozinha é um fardo pesado. O romance de um casal se faz com boas amizades. A mulher confia mais no homem que sabe ser um bom amigo; a mulher é mais prazerosa ao homem quando esta tem boas amigas. Estamos falando de amigos fiéis, amigos que sustentam o relacionamento, amigas para quem ela irá elogiá-lo, amigos para quem ele irá elogiá-la, amigos que o elogiarão para ela, amigas que a elogiarão para ele; esta comunidade de seres amigos e fiéis torna o casamento mais saudável, mais forte, mais duradouro.


A lembrança:
“Lembro-me da minha aflição e do meu delírio, da minha amargura e do meu pesar. Lembro-me bem disso tudo, e a minha alma desfalece dentro de mim. Todavia, lembro-me também do que me pode dar esperança: graças ao grande amor do Senhor é que não somos consumidos” Lm. 3.19-22.
Deus faz do seu relacionamento com seu povo um grande romance. Com ele, Deus tem um relacionamento agradável, recheado de boas memórias. Realiza coisas grandiosas, deixa testemunhas e dirige escritores para que o povo se lembre, nos dias maus, dos dias bons, e que o Senhor os ama. Um romance é feito de gestos bondosos e lembranças agradáveis. A história da vida de um casal deve estar recheada de momentos só deles, de pura bondade e inocência, são estas memórias que manterão o casal fiel nos dias maus, nos dias de tentação etc. Porém fazer boas memórias custa tempo e dedicação de ambos. Poderia alguém dizer que criar estas boas memórias limita o casal no seu propósito, isto é, poderíamos acusar o casamento de ser um canal de desperdício da missão. Bom, biblicamente isto está correto. Veja o que Paulo fala a este respeito: “o homem que não é casado preocupa-se com as coisas do Senhor, em como agradar o Senhor. Mas o homem casado preocupa-se com as coisas deste mundo, em como agradar sua mulher, e está dividido. Tanto a mulher não casada quanto a virgem preocupam-se com as coisas do Senhor, para serem santas no corpo e no espírito. Mas a casada preocupa-se com as coisas deste mundo, em como agradar seu marido” 1Co. 7. 32-34. Podemos afirmar sem medo de errar que o casamento limita a força proclamadora do Evangelho, porém aumenta a imagem de Deus na humanidade, e conseqüentemente, o nome de Deus é glorificado. Um solteiro fará mais pela missão, mas um casal transbordará em Glória através da felicidade e dos filhos, e sua missão dará os frutos que a Deus convier. Sendo assim, não se larga o casamento pela missão, nem a missão pelo casamento. No casamento, “o homem está dividido”.

A dança:
“Ele me levou ao salão de banquetes, e o seu estandarte sobre mim é o amor. Por favor, sustentem-me com passas, revigorem-me com maças, pois estou doente de amor. O seu braço esquerdo esteja debaixo da minha cabeça, e o seu braço direito me abrace.” Ct. 2.4-6.
A vida de um casal vive ou morre pela sexualidade, pois há dois tipos de sexualidade na bíblia, a doentia e a saudável, a que traz morte e a que traz vida. A sexualidade doentia é a mais natural: afinal, o que é um casamento senão a soma de dois seres egoístas, pecadores, maliciosos e que buscam o próprio interesse convivendo em um espaço entre quatro paredes? (o horror desta imagem é elevado à décima potência quando se pensa em uma família com filhos adolescentes) O símbolo desta sexualidade é a briga, é o casamento em que ambos brigam pelo seu espaço. Pensando bem, o casamento é impossível! Como já disse Guimarães Rosa, o relacionamento entre as pessoas é um milagre. O casamento seria impossível não fosse o milagre da graça de Deus escorrendo nos corações, gerando o casamento saudável, que traz vida, e o símbolo deste casamento é a dança.
A sexualidade saudável na Bíblia é quando o homem morre para si mesmo para servir à mulher, e quando a mulher morre para si mesma para ser submissa ao homem; quando os corpos são trocados, o homem tem como propriedade o corpo da mulher e a mulher tem como propriedade o corpo do homem. Em casa, eles não são dois leões disputando espaço, é um casal em baile, trocando de lugar ao sabor da música, obedecendo ao ritmo e à harmonia.
Duas características podem ser tiradas da Palavra a respeito de ambos, para que a dança seja levada: a força do homem, não para domínio, mas para proteger; a docilidade da mulher, não para manipular, mas para ser confiante.

Que Deus nos cerque de casais românticos!

Um comentário:

Anônimo disse...

eita Aefe! que bonito texto, pena que a gente tá só na teoria!!!