OBS.4s: observações quadradas para um mundo redondo sobre um Deus triúno!

18/08/2008

O Destino de Cada Um


Em uma grande cidade, nos tempos de hoje, havia um homem chamado Aiel, que não sabia o que fazer da vida, e muito menos, aonde ir. Era um homem bom, sonhador, com uma vida inteira pela frente. Ele tinha uma grande mulher, era estudado, mas tinha dúvidas em relação ao rumo de sua vida. E isso muito o atormentava. Ele sonhava em casar, ter filhos, uma vida agradável e em paz. Queria viajar, mas não tinha dinheiro. Queria trabalhar, mas não sabia aonde e em quê. E algo ainda maior o incomodava. Ele era cristão. Queria, acima de tudo, seguir a vontade de Deus. Mas tudo o que Aiel ouvia era o silêncio.
Após uma crise de desespero, decidiu ir até a Universidade próxima de sua casa, visitar a biblioteca, tentar se distrair com algum livro, ou até quem sabe, descobrir alguma resposta.
Entrou pela porta, pegou um livro qualquer de auto-ajuda, um costume muito idiota bem típico da época, e se sentou numa cadeira no fundo da biblioteca. Mas ele não se concentrava naquelas frases de efeito. Olhando para o lado, reparou num antigo livro que lhe chamou a atenção. Pegou e abriu para ver do que se tratava. Entre as primeiras páginas, sentiu que havia um volume a mais no livro. Era uma flor. Uma bela flor, embora gasta pelo tempo. Ele a tomou e a aproximou de seus olhos, para admirá-la. Então, subitamente, apareceu um homem a sua frente, que disse:
- Aí está o meu velho livro. Graças a Deus o achei.
- Desculpe, ele estava bem aqui. Só estava dando uma olhada – disse Aiel um pouco assustado.
- Bem, como não posso e nem quero emprestar meu livro que tanto me vale, o que posso fazer é lhe contar brevemente a história.
- Você não se importa?
- Não, senão eu não teria me oferecido. Vamos até o campus. Não podemos ficar de conversa na biblioteca.
Então os dois saíram e se sentaram debaixo de uma imensa árvore no bosque da Universidade.
- A história se trata de um homem chamado Andreas. Um homem que desde sua juventude se dedicava a servir qualquer um que precisasse. Era o seu destino. Ele não se importava com carros, luxos ou coisas que o homem almeja em primeiro lugar. Ele sabia que essa ambição controlava as mentes das pessoas. Ele viajava em sua simples carroça por todos os lados deste mundo, subindo e descendo montanhas, atravessando rios e cruzando vales. E ele não se cansava, mas pelo contrário, sentia um imenso prazer interior.
Certa vez, viajando numa terra seca, ele se depara com uma vila onde a fome estava matando todas as famílias que lá viviam. Descendo de sua carroça, ele vai até a parte de trás dela e tira aquilo que parecia um lírio, e que brilhava como fogo. Então ele se dirige até o centro da vila, planta a flor naquela terra que nada podia oferecer e declara a todos: “Um homem me salvou. Ele salva vocês também. Se ele estiver em seus corações, sigam exatamente o que seu coração mandar.” E se foi.
No outro dia, a vila amanhece em meio ao verde mais rico e profundo de que já tinham ouvido falar.
Seguindo sua viagem, no alto de uma montanha, havia uma simples casa de madeira, onde vivia um casal de velhinhos. De repente, o velho abre a porta de sua casa e sai desesperado em busca do visitante que ele tinha avistado. Ele queria que Andreas, o viajante, levasse sua amada senhora a um médico, na cidade. Ela não estava respirando e ele não sabia o que fazer: se ia atrás do médico ou se ficava com ela até ela morrer.
Andreas, então, pega uma flor, coloca-a próximo às narinas da senhora e em poucos segundos se ouve uma limpa e profunda respiração, como se ela tivesse sido puxada do fundo do mar.
O velhinho, maravilhado, não sabia o que dizer e se encheu de lágrimas assim que ouviu a voz de sua mulher chamar seu nome. Andreas se aproximou e disse o que sempre falava após usar suas flores: “Um homem me salvou. Ele salva vocês também. Se ele estiver em seus corações, sigam exatamente o que seu coração mandar.” E saiu pela porta.
Andreas, na última vez que foi visto, passava por uma pequena cidade, quando decidiu encostar-se a uma sombra fresca para descansar. Enquanto isso assistia a duas crianças brincando com toda a felicidade e liberdade que se podia ter. Corriam, pulavam, gritavam, brigavam. Não tinham limites. Andreas observava e em tudo achava graça. Até que um dos meninos subiu num alto muro e ficou se equilibrando. Andreas se levantou do chão na mesma hora. O menino, Joshua, lá do alto, cai bem em cima de uma pedra pontiaguda, para o desespero de seu amigo J.C.
J.C. pega Joshua nos braços, que com um furo profundo no peito, sangra sem parar. Mas não há ninguém ao redor para ajudá-los. J.C. grita com todas as suas forças.
Sabendo qual seria a conseqüência, Andreas tira sua última flor da carroça e corre em direção dos amigos. Ele toma Joshua nos braços e lhe fala o que terá que fazer na condição de salvá-lo. Andreas encaixa o caule da flor dentro do furo do peito do menino e a cicatriz se fecha no mesmo momento. Joshua recebe uma segunda chance. Como símbolo de sua salvação, ele tem uma flor plantada em seu coração. Se ele a tirar, perde a chance de viver.
Andreas, como sempre fez, expressa suas palavras e acrescenta: “Esta foi minha última flor, minha última viagem. É com vocês que se encerra a minha missão. Logo estarei nos braços Daquele que primeiro me salvou.” Dizendo essas palavras, subiu em sua carroça e nunca mais foi visto na face da Terra.
- Nossa, que triste e que estranho... uma flor plantada no coração?! Esse Andreas certamente era um anjo – comentou Aiel.
- Não, ele era um simples floricultor. Ele usou o que ele mais sabia fazer para dedicar-se às pessoas.
- E essa flor que estava no livro é a mesma que ele costumava usar?
- Sim.
- Como você a conseguiu?
- Eu a tirei do coração de meu amigo, há alguns anos atrás, quando sua missão por aqui chegou ao fim.
- Você... você é...
- Sim, sou J.C., o melhor amigo de Joshua, aquele que viveu toda a vida com uma flor cravada no peito.
- Ele já se foi? Quando?
- Ele seguiu seu coração, como Andreas nos tinha dito. Saiu de nossa pequena cidade, estudou nessa Universidade, se preparou o máximo possível, para que pudesse viajar o mundo e oferecer aquilo que ele tinha para dar. Ele salvou muitas pessoas, da forma que podia, e sempre dizendo aquelas palavras que nunca lhe saíram da mente. Mas um dia sua cota, o que ele tinha reunido para oferecer, se acabou, e sua missão também. Ele largou sua vida confortável e segura para seguir seu destino, seu coração. Uma difícil decisão, mas muito simples de se tomar.
- E você, o que tem feito?
- Eu ensino nessa Universidade, faço palestras aonde me chamarem e conto histórias para crianças carentes numa escola aqui perto. É o que tenho a oferecer. É a missão da minha vida.
- E essa flor, ainda pode salvar alguém?
- Senhor AIEL! Preciso fechar a biblioteca. Já está tarde. Você pode levar esse livro para casa, se quiser.
- Ãh...? Desculpe, senhor...
- Andreas, muito prazer. Em que mundo você estava? Chamo-lhe a mais de meia hora e você não levanta dessa mesa.
Aiel se levantou, meio tonto, e saiu pela porta da biblioteca. A escuridão e o silêncio tomavam conta do lado de fora também. Andreas, o bibliotecário, irritado pela inconveniência, tranca a porta da biblioteca, já louco para ir embora.

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