OBS.4s: observações quadradas para um mundo redondo sobre um Deus triúno!

24/03/2008

De quando éramos completos


“(...) Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

(...) E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia”.
Fernando Pessoa


O psiquiatra suíço Carl Gustav Jung propôs 4 figuras simbólicas para a significação humana: persona, sombra, animus e anima. Assim como um padeiro fala de coisas de Deus sem ser teólogo, me atrevo a comentar duas destas figuras simbólicas. Animus e anima, que representam, um o lado masculino na mulher e o outro, acreditem, o lado feminino no homem. Animus é a parte espiritual masculina na mulher, e anima, a alma feminina no homem, encarem!
Após superar o primeiro trauma de constatar que existe no homem um lado feminino, considerei o seguinte. Ora, foi a partir da descoberta de parentescos culturais da África na América que descobrimos que os continentes distantes eram antes um só: a pangéia. São os resquícios da África na América que nos trazem um passado de unidade continental. Seria loucura pensar que anima no homem e animus na mulher são resquícios de uma pangéia humana, o resquício de que fomos um dia uma coisa só, e que a criação do masculino e feminino é uma etapa posterior à criação humana?
Naquela que eu acredito ser a correta narração da criação humana, a narração de Gênesis de Adão e Eva, sou levado a pensar que o Varão criado no sexto dia não era um homem/masculino, como o entendemos. Afinal, para quê uso Deus criaria o sexo masculino sem o seu feminino? Mas o criou à sua imagem e semelhança: assexuado, completo, perfeito: um ser humano!
No entanto, não era bom que o homem estivesse só. A criação era bela, o humano era feliz e regozijava-se em Deus... Havia a comunhão com Deus e a adoração direta a Deus, mas a quem o humano compartilharia, num momento de profunda alegria, o quanto Deus era bom para ele? Estava só, o humano. Como Rubem Alves já perguntou num outro texto, de que vale tanta beleza estando sozinho? Imagino Adão exultando de alegria e procurando alguém para compartilhar da mesma alegria. E viu Deus que não era bom que o homem estivesse só.
Feito outro humano do barro, imagino dois seres perfeitos a regozijarem-se sozinhos, cada um em seu jardim, sem comunicação. Dois seres sem uma comunicação apaixonada... Completos somente. Porém, o sono do humano, de Adão, foi mais profundo do que imaginava... Não somente sua costela foi arrancada, mas todo o seu corpo passou por um processo de transformação, foi arrancada de si uma grande parte, parte de seu corpo, parte de sua alma, e disso outro humano fora criado. Mas não outro humano igual, e sim dois humanos diferentes, ou melhor, dois humanos de um; e o que faltava em um, completava-se no outro, e o que faltava no outro, completava-se naquele outro, e assim, fora criada não só outro ser humano, mas a eterna e cansativa busca do outro, fora criada a necessidade do outro, a comunhão; os resquícios da divisão eram como um ímã, com seu lado positivo negativo, anima e animus buscando completude. Não eram dois seres humanos, eram duas partes de um só, tanto que Adão a nomeou não com um nome diferente, mas com o seu feminino: Varão, Varoa. Ele inventou o feminino, e o feminino não é outro gênero, é a mesma coisa, diferente; é a parte do todo humano, é a parte da imagem de Deus. Homem e mulher somam a imagem de Deus.
Assim como nossa alma anseia por Deus desde que perdemos a comunhão com ele, nossa alma anseia pelo outro desde que nos separamos de nós mesmos. O humano foi dividido para que não apenas tivesse companhia, mas para que se buscassem um ao outro, para que se necessitassem, se completassem, a fim de adorar a Deus pela comunhão, e constituir família. A fim de compartilharem entre si o quanto Deus é bom para eles.
Mas isso também o pecado tirou. Após o Éden, a relação humana tornou-se de assassinato (em Caim e Abel), e de devassidão sexual (em Sodoma e Gomorra). O masculino e o feminino tornou-se defeituoso. Homem e mulher deixam não apenas de relacionar-se um com o outro de forma completa, como uma parte do outro, mas também o homem deixava de se relacionar com a própria masculinidade e a mulher com a sua feminilidade. O pecado trouxe ao homem e à mulher uma masculinidade e uma feminilidade corrompida, e à relação, trouxe concorrência, competição, opressão e separação.
O projeto de Deus na criação humana era criar uma raça humana a partir do homem e da mulher, juntos, em comunhão, o homem sendo completamente homem, e buscando na mulher sua feminilidade (anima), latente ainda dentro de si, e a mulher, sendo mulher, buscar no homem sua masculinidade (animus). Homem e mulher foram criados para comunhão, completude, igualdade e união.

8 comentários:

Mala disse...

Muito bom!
É legal pensar que o relacionamento entre homem e mulher que Deus criou para nós ainda pode ser vivido e serve de amostra do que Deus tem preparado para nós!

Unknown disse...

Massa demais, Aefe!!!

=)

Unknown disse...

Obrigado!
PS: Desculpem o tamanho do texto... prometo fazê-lo menor das próximas vezes, hihih

Anônimo disse...

Nossa, Aefe, que bonito...quem será que te deixou tão inspirado, hein? kkkk
Deus te abençoe!
Bjos,
Paulinha

Humberto R. de Oliveira Jr disse...

Interessante, muito interessante mesmo. Inclusive, chega a ser um tapa de luva na cara de homens machistas, já que o homem possui uma "anima".

Só uma sugestão: poderia colocar parágrafos no texto, cansaria menos a vista.

Forte abraço a todos os Obstetras.

Humberto R. de Oliveira Jr disse...

Jônatas, que legal o blog de vocês. Parabéns a todos.

Se cuidem...

Unknown disse...

Aefe, pq falou comigo esse negócio??
muito, muito interessante. Imprimi pra ler em casa com calma.

MarVin

Israel disse...

Deus fez perfeitamente a atração entre o homem e a mulher. Eles se completam mesmo com as diferenças. E que diferenças! Bonito artigo, Aefe! Abs.